Ah, nós... Cúmplices de um desamparo velado!
Quero aprender o cotidiano do amor discreto.
Minha agonia tem asas de borboleta.
Asas que se debatem, presas no emaranhado de idéias
vis e vãs
a apropriar-se de minha mente.
Minhas asas machucadas podem se curar,
mas minha alma exauriu-se.
Não quero mais dançar mambo só para te seduzir...
acabou!!! Não posso mais!!
Tento não recair em minhas decisões.
Tento olhar para frente,
seguir em direção ao horizonte, mas meus passos,
pesados, voltam atrás...
Minha alegria incontida,
vinha de onde então?
Agora me deparo com um enorme buraco
me separando de mim...
Busco a fonte das minhas intensidades...
Minhas buscas infindáveis, solitárias...
O grande trunfo da vida: revelar-nos!
E ocultamos para sempre
sob todos os tapetes a terrível verdade:
somos seres solitários!
A solidão, agora, me dá a dica da cura...
Curti-la até
seus mais amargos sabores.
Entorpecida,
o cérebro dormente,
tento escutá-la com seus discursos fantásticos.
Só o que ouço são ruídos roucos
a me atormentarem o espírito.
Esse monólogo é árduo!
Caminho sem volta,
uma velha ponte em seu curso.
Passar por ela é abdicar-se das ilusões vividas,
dos delírios conscientes
criados só pra deixar de doer tanto...
É deixar as alucinações
no passado longínquo para fazer arder menos
as chagas abertas no caminho...
Passar por essa velha ponte é arriscar-se na travessia!
Com a fraqueza de quem se desfalece ante da dor,
enluto-me.
Enluto-me por aquilo
que realmente nunca tive.
Meu coração em luto
por perder o que, veramente,
nunca possuí.
Minhas memórias,
telas imaginárias,
esfaceladas, craqueladas,
dissolvidas pela dura realidade
a suportar em silêncio.
O silêncio agora impera em mim
e espera ecoar pelos anos a vir.
Viver? Sim! Claro!!!
Não mais por migalhas
e sim
por pedaços inteiros,
robustos, recheados...
Viver... a poesia dos dias de encantamento
construídos cotidianamente,
fantasiados de luz.
Quero transcender... Brilhar!!!
Até que, como um vaga-lume,
possa iluminar
meu próprio caminho.
Bethânia Loureiro