quarta-feira, 29 de dezembro de 2010


E não falar de amor?
E não dizer de mim?
Então é melhor morrer
Não sei viver assim.
Se não tenho o que se chama de Amor
Se não digo o que quero dizer
Então que se desfaça o nó
Que em minh’alma viste a fazer.
Se não compreende a minha vida
Se não entende o meu olhar
Que faço aqui meu senhor?
Se não posso ao menos sonhar?
Se não posso dizer o que sinto
Se sinto o que não posso dizer
Apodreço, morro, minto
Não tenho razão de ser.
Se o infinito é parte da Vida
E a vida parte do Ser
Então que se divida a vida
Antes do amor e  depois de você!

Bethânia Loureiro

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A FORÇA DO TEMPO


Por esses dias...

Joguei-os fora!

Laços antigos que me prendiam...

E que me reduziam ao que um dia acreditei ser...

Me reduzia e me induzia a formar a imagem que acabei sendo...

Acreditando nas minhas dores, nas minhas lágrimas...

O lixo. Foi o destino daquilo que por anos me prendeu.

A um passado sem história.

A um refúgio sem abrigo...

Sinto apenas e tão somente apenas pena da lixeira que nesse instante, deve estar chorando por uma dor que não é sua...


Mas se encontra-la por aí mande um recado meu:

Peça desculpas!

E diga: -- “vai passar, menininha, vai passar...!”.




Bethânia Loureiro

Monólogo de luz



Ah, nós... Cúmplices de um desamparo velado!

Quero aprender o cotidiano do amor discreto.
Minha agonia tem asas de borboleta.
Asas que se debatem, presas no emaranhado de idéias
vis e vãs
a apropriar-se de minha mente.

Minhas asas machucadas podem se curar,
mas minha alma exauriu-se.
Não quero mais dançar mambo só para te seduzir...
acabou!!! Não posso mais!!
Tento não recair em minhas decisões.
Tento olhar para frente,
seguir em direção ao horizonte, mas meus passos,
pesados, voltam atrás...

Minha alegria incontida,
vinha de onde então?

Agora me deparo com um enorme buraco
me separando de mim...
Busco a fonte das minhas intensidades...
Minhas buscas infindáveis, solitárias...
O grande trunfo da vida: revelar-nos!
E ocultamos para sempre
sob todos os tapetes a terrível verdade:
somos seres solitários!

A solidão, agora, me dá a dica da cura...
Curti-la até
seus mais amargos sabores.

Entorpecida,
o cérebro dormente,
tento escutá-la com seus discursos fantásticos.
Só o que ouço são ruídos roucos
a me atormentarem o espírito.

Esse monólogo é árduo!
Caminho sem volta,
uma velha ponte em seu curso.
Passar por ela é abdicar-se das ilusões vividas,
dos delírios conscientes
criados só pra deixar de doer tanto...
É deixar as alucinações
no passado longínquo para fazer arder menos
as chagas abertas no caminho...
Passar por essa velha ponte é arriscar-se na travessia!
 
Com a fraqueza de quem se desfalece ante da dor,
enluto-me.

Enluto-me por aquilo
que realmente nunca tive.

Meu coração em luto
por perder o que, veramente,
nunca possuí.
Minhas memórias,
telas imaginárias,
esfaceladas, craqueladas,
dissolvidas pela dura realidade
a suportar em silêncio.

O silêncio agora impera em mim
e espera ecoar pelos anos a vir.

Viver? Sim! Claro!!!
Não mais por migalhas
e sim
por pedaços inteiros,
robustos, recheados...

Viver... a poesia dos dias de encantamento
construídos cotidianamente,
fantasiados de luz.
Quero transcender... Brilhar!!!
 
Até que, como um vaga-lume,
possa iluminar
meu próprio caminho.
Bethânia Loureiro

Esperei na porta...





Esperei na porta...
Mas não era ninguém.
Não veio ninguém.
Escutei batidas, passos... Esperei.

Agora percebo que era somente minha saudade se remexendo entre meus guardados e minhas memórias.
E ela é tão alva, tão grave, soberana...
Formulo o que direi à minha filha sobre a saudade...

Ah, se pudesse guardar minha filha em uma caixinha
 para não conhecer a saudade, não sentí-la!
Direi apenas que é uma dor crônica, mansa e cruel...
Que rasga o peito todos os dias um pouco...
Corrói o tórax, causa dores físicas, se disfarça no cotidiano... Mas nem sempre sabe por que o faz.
Às vezes vem, senta-se ao nosso lado e fica um tempo em silêncio... Silêncio duro, cruel!
Eu continuo escutando seus passos ao meu redor. Sua cura??? Lastimo. Mas não se pode curá-la...
Seu remédio está no tempo... No encurtamento das distâncias... Dos espaços geográficos...
Inclusive, se hoje Deus me perguntasse pessoalmente qual o meu desejo, pediria uma tesoura e um globo... Ignoraria todas as minhas aulas de geografia e iniciaria uma verdadeira aula de corte e costura...
Cortaria continentes, divisas. Uniria com agulha e linha, Estados e países... Colocaria todos os meus afetos do outro lado da minha rua... Meu globo que outrora fora redondo, ficaria todo remendado, mas estaria correto no meu conceito de perfeição.

Outras distâncias já são impossíveis de abreviar.
Aquelas em que o tempo se foi... Como aquele navio que partiu e sabe-se que não volta... Aquele rio que passou, e que não torna a passar...
Sobrevivo, criando considerações que não posso modificar.
Vivo buscando saídas para as minhas eternas dores, saudades e alegrias contidas.
Agora repenso o que contarei para minha filha sobre o Amor...

Bethânia Loureiro


domingo, 26 de dezembro de 2010

Quero encaixotar tudo



Quero encaixotar tudo
E, logo!!
Abrir armários e baús
Juntar badulaques  e quinquilharias
Fechar portas e destravar gavetas
Quero desencaixotar novas louças
Que estão velhas esperando o “dia D”
Quero desanuviar os ares
Ciclo novo, vida nova!
Renovada
Curtir o sol
Ouvir o som da chuva
Mas dessa vez caindo no chão
E eu lá contando pingo a pingo
Quero aguar as plantas
Pés descalços
Terra!
Quero deixar a gaiola
Voar como pássaro.
Balançar na rede como folha caída
Leve ao vento.
Quero cantar,
A canção dos livres
Quero abrir outras portas,
E encerrar velhos ciclos.

Bethânia Loureiro



Não quero mais escrever-te cartas






Não quero mais escrever-te cartas.
Quero mesmo é te falar de amor.
Quero ser mais determinada
Tocar-te a alma
Dizer-te palavras nuas
Sem acordos estéticos
Sem atropelos
Quero senti-las introduzidas
 Em seus ouvidos,
Como forma de sabê-las todas.
Quero cuidar para que
 Nenhuma delas escape,
 Ou ainda, escorra por aí...
Quero amarrar-te
Sem algemas
Apenas com o fervor
 Dos meus olhos em ti
E fazê-lo saber, minuciosamente
O que trago em mim
Não quero mais escrever-te cartas
Quero explorar outros sentidos seus
Sua audição talvez seja mais aguçada
Que seus olhares em manuscritos meus.
Não quero mais escrever-te cartas.
Definitivamente.
Bethânia Loureiro