quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Essência

 
 
 
Eu sou a solidão mergulhada em um caos de loucura.
Sou o fio de sanidade que ainda me resta
Nesse grande emaranhado de ideias que nunca tem fim.
Sou a tentativa de ordem nesta grande volúpia  ardente que é a Vida.
Sou a santidade tentada em um cotidiano de amenidades e futilidades vãs.
 
Recaio sobre velhas utopias e recrio o meu próprio pensar.
Quem sou?
 
Descubro-me mais Eu do que nunca.
 Descubro-me mais essência do que virtudes
 Mais essência do que verdades
 Mais essência do que insenções.
Essa sou Eu.
 
Bethânia Loureiro

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Definições



Tento me definir
Entre flores e vulcões
Caminhos e percalços
Na rigidez dos dias
Na solidão das manhãs de sol
Sem sol.
Como guardião de segredos
Encanto-me
Com a insolência das ruas de pedras
Oca de sonhos  e vazias de mim.

Bethânia Loureiro

sábado, 27 de agosto de 2011

Dores Promíscuas


(Quadro de Antônio Parreiras (1860-1937), chamado de Dolorida)



Arte encantada
Solitária
Dolorida
Secreta
De palavras tristes
Olhar que pulveriza
Que revela
Detalhes inconcebíveis de mim
A idéia concreta de vida
Encena a minha contemporaneidade
Mas Apolo e Dionísio ainda duelam por minha posse
E nessa miscelânea de retas e curvas
Me curvo
Diante do sagrado instante
Que te perdi
Minha alma mestiça
Cravo, canela e cor
Pigmenta nesta folha
As dores promíscuas
Dessa contradição secular
Adorno-me de plumas, sangue e delírios
E encerro a noite
Sob estrelas
Perversas e atrevidas
Expelindo canções de ninar
Castas e causticantes.

Bethânia Loureiro

sábado, 11 de junho de 2011

Suas Cartas



Leio e releio suas cartas
Aquelas cartas de amor
De furor que me escrevia
Busco em suas frases algo que denunciasse
Ou ainda, prenunciasse o fim
Encontro frases mal escritas
Proposições mal colocadas
Conjunções fora do contexto
Letras ilegíveis que ferem meu pudor
Adorno-me com seus escritos
Envelopes
Folhas
Selos
Cola
Nada me traz você
Nada me conta mais de você
Sua cartas
Textos toscos
Que imprimem em mim a decepção
Em sua fuga mal armada

Leio e releio suas cartas
Mas nada mais
Me conta de você.

Bethânia Loureiro

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Perdi-me de ti


Perdi-me de ti
Onde ficou nossa cumplicidade?
Odores, sabores
Em que esquina
 nos perdemos
de nós
No caminho
De nossos passos, compassos
Risos soltos perdidos na madrugada a fio

Agora te encontro
Sempre Indolente
Minha voz que some
Você que sai
Partindo
Se distanciando de mim,
De nós.

Duas ausências
Frases mutiladas
Palavras trocadas
Com dores
Afetadas
Cortadas
Nos separando de nós.


Bethânia Loureiro

sábado, 21 de maio de 2011

Pupilas Subjugadas


Me diz que não foi ilusão
Que não foi mentira

Nossas pernas enroscadas
Em passos leves
A flutuar.
Nossas línguas presas
Em palavras doces
Meigas e suaves.

Minhas pupilas subjugadas
Ao brilho das suas.
Nossos poros exalando
 Desejo de carne
Fogo na pele
Sumo de amor

Me diz que  foi mentira.
Que foi ilusão.
Seu passo sumindo
Essa distância...
Dessa sua voz rouca
E eu aqui quase louca
 Te vendo partir

Quando o dia amanhece
Quando o sol aparece
E minha voz enternece
Pedindo-te: Fica!!!
Esse desespero morno
Que me gela a alma
Que me tira a calma
Me fazendo minar

Eu que  sempre espero
Que a noite apareça
Que você me enlouqueça
E que possa ficar

Que de novo se enrosque
Em minha fala  nua
Que de novo destrua
 O que me insiste em doer

E que novamente me fale
De amor e luar
De sol e minúcias
E reconheça as carícias
Que guardo só pra você.

Bethânia Loureiro






sábado, 23 de abril de 2011

Palavras de anjos



( Para minha filha Marcela)

Fruta minha, flor do dia, dos meus dias...
Canto ao vê-la
Transparente e alva à luz da lua.
Alma benfazeja que aquece minhas horas
Que me encanta a alma
Acelera minha calma
E me devolve pra mim.
Tu és ponte.
Fonte de luz que me comove os olhos
Quando reproduz no mundo
Parte do que sou.

Cutuco palavras,
Na pretensão de que descrevam
Meus sentimentos em versos azuis.
Mas meu intento é sempre falho
Pois descobri que palavras de anjos, cutucadas
Viram estrelas
E enfeitam o céu dos deuses.

Bethânia Loureiro