terça-feira, 8 de março de 2011

Palavras Soltas


“(...)agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram”

Li essa frase em um texto de Rubem Alves, de um poeta chamado Cummings. Algo foi tão profundo no que vi e li...
De repente qualquer coisa dentro de mim despertou. Primeiro percebi que preciso ler mais, não conhecia o Cummings, mas quando pesquisei sobre suas obras entendi que perdi alguns anos lendo coisas desnecessárias e sem sentido.
Mas, mais do que descobrir isso, foi me descobrir nessa frase, me encontrar. Como quem encontra algo que ficou esquecido depois daquela última mudança, em meio a caixas e mais caixas. E de repente reencontra o tal objeto perdido. E nessa frase eu me reencontrei!
Percebi que tenho olhos de poeta! Veja bem, não sou poeta. Tenho somente e tão somente olhos deles. Mas isso não deixa de ter algo de pretensioso... 
 Mas isso soa bem ao meu coração que tem batido descompassado esses últimos meses. (Meu cardiologista nem sabe disso...)
Olhos de ver e alma de poeta! Deve ser por isso que coisas simples me são tão caras. Deve ser também por isso que minhas memórias são tão mais coloridas. E deve ser por isso que um acontecimento, que para a maioria dos mortais seria um episódio banal, acaba sempre virando uma grande história ou um romance dentro de mim.
Aprendi ter olhos de poeta! E isso agora é algo que me assusta. A velha ideia juvenil e extremamente ousada de escrever para os outros que não só minhas gavetas, veio como um vendaval, arrastando-me para fora de mim.
Me questiono sobre o momento exato em que tenha aprendido a “ver com os olhos de poeta”. Se é que isso tem alguma importância agora.
Meus pensamentos como caracóis, redemoinhos vivos que insistem em pular sobre mim. Palavras soltas, emaranhadas, arrastando-se em minha frente.
Tento me defender, e até mesmo fugir. Mas elas se enroscam em minhas pernas, e crescem como plantas trepadeiras.
As palavras sem sentido, todas amarradas e enlaçadas num passado de desamparo, de desatenção.
- Subam plantas loucas! Cravem suas raízes no meu corpo. Suas garras afiadas que não mais me espetam, são agora livres!!! A liberdade te fazem amenas, inofensivas a mim.
Hoje entendo que minha dor era de suas asas se debatendo dentro de mim, na busca insana de encontrar um orifício que lhes dessem vida!
Chove palavras agora, e elas encontram refúgio naquelas outras que já habitavam no meu corpo. Elas se encontram como pares, e bailam!
Seu balé lúcido, alvo e contemporâneo de tons vibrantes, acordes imperfeitos, numa orquestra desatinada, e desafinada que  sempre viveu aqui.
E que se cumpram o seu destino. Que seus pares se unam e o baile comece.
- Música maestro!!
Bethânia Loureiro

5 comentários:

  1. Bê, você carrega a poesia na alma...Nós fazemos parte do mundo das letras e nossos corações do mundo...Nunca vamos deixar de sentir, amar, ouvir, sentir... Um beijo grande lindinha!

    Vivi

    ResponderExcluir
  2. Nossa Bethania ,parece que ficou mais lindo ainda.
    Você ´´e intensa e muitoo contribui para o crescimento de todos que se aproximam de você.Bjs

    ResponderExcluir
  3. Obrigada queridas, pelos comentários carinhosos e pelas visitas.
    grande beijo

    ResponderExcluir
  4. Me junto a este seleto grupo. Enquanto houver uma raiz no solo, haverá o sonho de uma árvore.

    Bjos

    Emmerson Kran

    ResponderExcluir
  5. Obrigada Emmerson pelo carinho. Apareça sempre!
    beijinhos

    ResponderExcluir